segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A informação, hoje, será melhor?

Propaganda eleitoral apanhada ontem, duas semanas após as eleições,
no chão de uma rua do centro de Lisboa

O cidadão nunca teve à disposição tantos meios para se informar como hoje. Mas isso não significa que esteja melhor informado ou, por outro lado, que lhe seja fornecida melhor informação. Antes pelo contrário.

No meu trabalho de mestrado, abordando genericamente a questão, escrevi o seguinte: «Numa época em que a informação circula de modo cada vez mais veloz, e em que o volume dessa mesma informação assume – devido à globalização – proporções nunca antes conhecidas, o cidadão comum sente crescentes dificuldades em fazer as indispensáveis sínteses».

Ou seja, escrito de outra forma: perante tal volume de informação (produzida cada vez mais rapidamente e, portanto, com menor qualidade), o cidadão vê-se obrigado a um esforço cada vez maior de comparação, reflexão e apreensão.
E se não o fizer pode acabar mal informado.

O CASO CONCRETO DAS ELEIÇÕES EM LISBOA

A vitória de António Costa nas recentes eleições para a Câmara de Lisboa é uma situação exemplar (no mau sentido, entenda-se) de como os cidadãos podem ser levados a construir uma opinião errada.
O triunfo do autarca socialista foi apresentado como uma vitória pessoal retumbante e, mais do que isso, como uma vitória política significativa do Partido Socialista. Foram estas as ideias mais divulgadas por rádios, televisões e jornais – e, estou certo, são as ideias que ainda hoje permanecem na cabeça da generalidade dos cidadãos.

 Vejamos a realidade…

1. António Costa encabeçou uma lista que, na verdade, era uma coligação. Para além de socialistas e de candidatos ditos “independentes”, incluiu dois movimentos organizados de cidadãos: “Lisboa é Muita Gente”, de Ricardo Sá Fernandes, e “Cidadãos Por Lisboa”, de Helena Roseta. Esta, aliás, encabeçou a lista para a Assembleia Municipal.
O facto, que me recorde, nunca foi destacado, nem na noite eleitoral nem nos dias seguintes.

2. António Costa foi eleito com 50,9% dos votos (segundo a versão oficial), mas que correspondem na realidade a 22,9% dos eleitores. Ou seja, quando o presidente assomar à varanda dos Paços do Concelho e olhar para o largo deverá concluir que, em cada 100 lisboetas que lá se encontrarem, 77 não votaram nele.
Outro facto que não me recordo de ter sido referido.

3. António Costa foi eleito com menos 6.947 votos do que nas eleições anteriores.
Também este facto nunca me surgiu pela frente nem em televisões nem em jornais.

Vitória esmagadora?

É por isso que, apesar de todos os meios actualmente disponíveis, não é certo que o cidadão esteja em 2013 melhor informado do que estava há 10, 20 ou 30 anos atrás.

Talvez seja por isso, também, que os meios de comunicação social tradicionais se encontrem em crise acentuada – e não apenas os jornais como, erradamente, tantas vezes se tenta fazer crer.

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